e ele as fotografava na forma perfeita que se completavam, uma Paz e outra Guerra. uma folha branca que de tão pura se deixa desenhar por qualquer traço de punho verdadeiro ou suficientemente intenso. outra mel, sensual em textura e sabor, em essência e na capacidade de impregnar, com doçura natural e própria .
elas se amavam, eram como espelho reflexo do inconsciente da outra. a outra era tudo que uma sabia que queria ser no momento que se identificava com a personagem de uma música cujo ritmo não combinava com ela, mas que era uma de suas preferidas.
por isso viviam em uma casa de campo, longe dos olhares sempre vazios, a postos para imprimir um rótulo que os facilitasse a compreensão dos outros. quando viam alguém passavam sempre por irmãos, os três, tamanha era a sintonia. e se era verdade que elas se amavam mais que a ele, sabia e isso não atingia. não adiantava querer ser 2, eram 3.
beijos eram raros e sempre traziam uma luz estranha, uma pressão diferente no ar, o olhar o respondia.
sempre ao longo do dia se tocavam, nas partes do corpo permitida aos amigos: a Guerra gostava dos fluidos cabelos dela. a Paz da pele rija, quente e canelada da outra.
compartilhavam o gosto que tinham pelo Homem: a barba mal feita, o olhar tranqüilo, a força com que as abraçava quando choravam, a união do tornozelo e das batatas da perna, além das suas respostas para o mundo, seja ele real ou não.
mas a Paz não queria mais estar naquele lugar, queria virar guerra. queria ser menos agradável e doce, menos fácil de amar. queria ser desejada apesar do temperamento, do egoísmo (que na verdade tanto reprimia).
queria ser desejo e inspirar.
queria mudar. agora ser intensa.
ter lugar para ser outra.
tal como era sua Guerra.
queria ser musa.
não se trata de um filme que você viu ano passado, passou-se em outro lugar.
Por que elas só se tocam nos lugares permitidos aos amigos?... Há alguma coisa nessa relação que me intriga... Tudo leva a crer que é mais que uma amizade, o espírito do texto indica isso... Mas no final, parece que realmente é uma amizade íntima... intrincada e repleta de tensão...
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ResponderExcluirera aí que o especial se revelava,
ResponderExcluirno possível
não que ele não fosse ultrapassado
era nessa 'amizade'
no carinho de rostos, braços e pernas. quase infantil, quase descoberta da pele.
e esses toques eram ao longo do dia
na convivência
no fim a harmonia foi quebrada pela necessidade de mudança
'pela lei natural do encontros em que deixamos e recebemos um tanto'
Saiu este bendito texto. Perfeito.
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