29 de ago. de 2010

os 2 e a Paz

em três eram. ele e mais duas.
e ele as fotografava na forma perfeita que se completavam, uma Paz e outra Guerra. uma folha branca que de tão pura se deixa desenhar por qualquer traço de punho verdadeiro ou suficientemente intenso. outra mel, sensual em textura e sabor, em essência e na capacidade de impregnar, com doçura natural e própria .

elas se amavam, eram como espelho reflexo do inconsciente da outra. a outra era tudo que uma sabia que queria ser no momento que se identificava com a personagem de uma música cujo ritmo não combinava com ela, mas que era uma de suas preferidas.

por isso viviam em uma casa de campo, longe dos olhares sempre vazios, a postos para imprimir um rótulo que os facilitasse a compreensão dos outros. quando viam alguém passavam sempre por irmãos, os três, tamanha era a sintonia. e se era verdade que elas se amavam mais que a ele, sabia e isso não atingia. não adiantava querer ser 2, eram 3.

beijos eram raros e sempre traziam uma luz estranha, uma pressão diferente no ar, o olhar o respondia.
sempre ao longo do dia se tocavam, nas partes do corpo permitida aos amigos: a Guerra gostava dos fluidos cabelos dela. a Paz da pele rija, quente e canelada da outra.
compartilhavam o gosto que tinham pelo Homem: a barba mal feita, o olhar tranqüilo, a força com que as abraçava quando choravam, a união do tornozelo e das batatas da perna, além das suas respostas para o mundo, seja ele real ou não.

mas a Paz não queria mais estar naquele lugar, queria virar guerra. queria ser menos agradável e doce, menos fácil de amar. queria ser desejada apesar do temperamento, do egoísmo (que na verdade tanto reprimia).
queria ser desejo e inspirar.
queria mudar. agora ser intensa.
ter lugar para ser outra.
tal como era sua Guerra.
queria ser musa.




não se trata de um filme que você viu ano passado, passou-se em outro lugar.

4 comentários:

  1. Por que elas só se tocam nos lugares permitidos aos amigos?... Há alguma coisa nessa relação que me intriga... Tudo leva a crer que é mais que uma amizade, o espírito do texto indica isso... Mas no final, parece que realmente é uma amizade íntima... intrincada e repleta de tensão...

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. era aí que o especial se revelava,
    no possível
    não que ele não fosse ultrapassado
    era nessa 'amizade'
    no carinho de rostos, braços e pernas. quase infantil, quase descoberta da pele.

    e esses toques eram ao longo do dia
    na convivência

    no fim a harmonia foi quebrada pela necessidade de mudança
    'pela lei natural do encontros em que deixamos e recebemos um tanto'

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  4. Saiu este bendito texto. Perfeito.

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