Uma cigana bêbada: batom vermelho borrado, lápis de olho azul escorrido, pele machada . Já se via que não era novinha. Falava em misticismos e sincronicidade mesmo sem saber, falava. Seu olhar lento mostrava o quanto gostava de sexo embora seu acendente a fizesse um pouco reservada. Era simples e sem graça e raramente, podia parecer bela.
Havia aprendido certas verdades e escrito num pingente, mas certamente esquecera-as dentro de alguma caixa quando viveu aquele romance.
Soube espremer seu medo. Aprendeu rápido a gostar de esta só e considerou a ideia um retorno, uma missão.
Saber de sua condição pode ser libertador.
Foi assim que lembrou, colocada entre a menina e seu caminho. Pedra no carinho.
E afinal, não importava mais nada além dela. Volta ao estado original: solidão pode ser desespero mas se novamente batia à sua porta, seria acolhida como irmã. Soube agora, nasceu para ser sua, só e sua.Mas parou sua estação, reverteu os trajetos e veio aqui te dizer:
caia nesta teia e esqueça o som dos ecos
fórmulas repetidas cansam demais..
aprendi uma verdade
densa, secreta
o riso hoje é mais inteiro
tenho à mão meu sentir, como cartas
eu, que já estive de all in
ganhei
espero a próxima jogada
e eu sei que você só viveu impune
viveu vivendo
mas
não me venha que não te cai bem
esta dor
neste remorso, fica sobrando pano e linha
eu que nem lembrava o que é desprezo
pena não mereço
se posso pedir algo: mate seus fantasmas
cuidado pra não ir junto
um dia vou te olhar nos olhos, mas não creio que possa te amar
eu já amei outras
georgia trazia uma dor pura, era a menina mais bonita do bairro
foi suavemente que me apaixonei por ela
como uma tristeza boa,
como um mato que nasce no jardim mas nos dá a alegria de flor bonita.
georgia foi a andorinha em meu inverno.
se você olhar pra si vai entender tudo
só não quero ser um peso
não é pedir muito
deixe
por favor, me deixe
(também queria escrever-te sem chorar)
não, você não me alcança
nem me compreenderá
talvez um dia...
mas não te desejo isso: parece inveja e mal olhado,
e não é.
fique com meias verdades, com sua paz de espírito
nunca ouviste minha voz
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