10 de jan. de 2011

à vista

Anos atrás ela me confessa:
- Meu amigo, ele te vê sempre e te acha tão bonita. Mora aqui perto.(...) E como estão belos teus cabelos!
Eu achei que havia uma dor em dizer-me e como de costume, estava certa. Ele virou seu namorado tempos depois, uma pessoa maravilhosa segundo ela.
Nunca tinha eu sido tão envolvente, nunca tinha sido notada sem ter notado. Quando naquela festa os ví juntos, ela não sabe qual olhar me seguia pelo dance. Nem que eu sabia de tudo.

É recente o momento que nos vimos a sós, e eu pedalava dançando, agora a música do meu fone. Ele me olhou de perto e continuou a olhar de longe.

Hoje quem o viu foi eu, longe, numa bicicleta. Sacudindo a cabeça feito dança.




D'outra vez foi o menino alto da escola ao lado. Sim, o caminho era o mesmo e percorrido diariamente. É claro que eu sabia de sua fisionomia, mesmo sem saber seu nome. Eu via todos e me sabia invisível na condição de menina branca, magra e sem algum atrativo perceptível.
Anos, muitos anos passados numa festa com pouca luz e lucidez, ele me aborda:
- Ei, eu lembro de você! Você estudava naquela escola (...) Todo dia pegávamos ônibus no mesmo horário. Como está?
Conversamos bons minutos sobre algo que não lembro. Lembro apenas que ele tinha o raro costume de olhar nos olhos e que a menina ao lado pareceu não gostar da boa memória do moço.

No ano que passou o flagrei com os olhos postos em mim mesmo ele estando em cena e eu na platéia. Percebeu, percebeu de novo e não olhou mais.
Mas fotografou, no intervalo dos atos.
A maquina que se mexia, ritimava com os meus passos. Fiz uma movimento brusco para confirmar que era seguida: mudei de lado e a mira da lente também veio. Rápida e exata: eu era capturada numa foto.


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Sem açucar, com afeto.