4 de fev. de 2011

a cidade natal, a criança, o tempo

A volta me traz de volta os lugares onde sempre me vi, ou melhor, onde não me via e torno a não me ver.
Eu só os vejo e é como eu nem estivesse aqui.
As ruas são as mesmas e sei de todos destinos.
Sei dos números dos ônibus, de sua abusiva tarifa e do que encontrarei no fim de cada curva. Só uma nova pichação deu uma nova cor às ruas desta cidade e foi tão rápido que nem pude ver.

O que acontece de novo na velha cidade?
Ontem um menino meu deu um passaporte que faz o tempo mais rápido. Era imune à burocracia, todas as crianças são, e transitam na lei do divertimento.
Elas carregam apenas o momento, sabem o que a gente há tempo já esqueceu: aproveitar este momento.

Também quero ser ilegal, sem contratos a serem cumpridos nem sorrisos a serem forjados. Mesmo sendo tarde, quero viver minha infância proibida.

Hoje um olhar que veio bem dentro de mim, e pedia desculpa por não levantar já que estava grávida e muito cansada. Era um verde claro que sorria doce, daqueles olhares que querem conversa.

Preferi olhar a cidade, cansada por seu sol forte. Lutando contra meu cansaço, esqueci que as crianças não cansam nem deixam de ouvir um olhar e, vencida, perdi uma chance de viajar pra algum lugar além de uma janela óbvia.

Um comentário:

  1. belo retrato de pequenos momentos de quebra de cotidiano...

    São eles que valem o dia, que marcam na memória, ainda que inconscientemente... Encontros...

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Sem açucar, com afeto.