8 de mai. de 2013

caia na estrada e perigas ver





Bastava se ter para onde ir, ou não ir. Contanto que não se seguisse um caminho: sempre preferiu atalhos e se perdia.
A estradeira intuía pelas palavras e jamais havia encontrado quem falasse de janelas ou da poeira no encontro das paredes. Era como se as palavras se enovelassem até parecerem um lugar macio de morar ou de, pelo menos, passar a noite. A cigana postergava pessoas. Entrava em toda e qualquer história  para observar a capacidade que as pessoas tem de acreditar. Como se isso fosse pedir demais, era considerada sádica. Se tudo é tão fraco que precisa ser a todo o tempo convencido simplesmente não é, e para a desviante esta sua teimosia representava uma mínima vontade de essência ou revelação mínima de assunção.

Não foi cedo que cumpria a culpa de viver como quem sabe. De andar invisível pelas cidades, de fugir à regra. A estradeira não recorda o tempo que suas palavras vibravam, não entendia nem de silêncio nem de verdade. Rasa, a vontade que grita e a vida parece tomar uma dose sem entender de desejos enquanto prisão.

E certa vez caiu numa história, tão ingênua, que recebeu nome de poema.
Assumir-se é também perceber o mundo, seu campo de batalha. E o que ficava era sempre o diálogo que conseguia levar na mala: extrato de uma vida sem conflitos mas que vinha de quebra, com um punhado de convergências.

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